OIAPOQUE, AP - DO OIAPOQUE AO CHUÍ DE BIKE
Atualizado: 27 de jul. de 2021
Combinei com o Gabriel de revermos o caso do espaçador que instalamos no eixo passante da bike. Acontecia um barulho estranho enquanto pedalava na noite anterior. Além do mais, a blocagem não prendia no garfo. Se eu a apertava demais, travava o eixo, se a aliviava, não conseguia prendê-la. Combinamos logo cedo para tentar buscar outra solução antes da minha partida a Oiapoque. Estava tenso, o problema que pareceu resolvido na noite anterior, não foi fora superado. Como antes, procurei não tornar o problema algo ainda maior.
Saí do quarto, havia umas mesas ao redor e um café bem simples oferecido pelo hotel. Peguei meus remédios e subi para a refeição. Fiquei lá uns 20 minutos, passaram algumas pessoas quando um casal sentou ao meu lado. De repente, ao terminarem de tomar seu café, o homem virou para mim e disse:
-Qual é seu nome?
- Nestor, respondi assustadoramente.
- Nestor, humm, eu não te conheço, mas acredite, algo muito bom está a acontecer.
- Espantado, retruquei: puxa, você é um otimista!
- Não, não sou não, apenas acredite que algo de bom irá acontecer.
Subitamente levantaram, despediram-se e partiram, deixando-me sozinho no salão.
Desci para o meu quarto, abri a porta e olhei para a bike. Comecei a ajeitar as minhas coisas como se fosse já partir. A história com o casal mexeu comigo; fiquei confuso.
Aguardei até 10h quando o Gabriel chegou com duas notícias. Havia arrumado um transporte em caminhonete até o Oiapoque e me propôs que revíssemos o espaçador
que havíamos instalado no dia anterior. Entramos no seu carro e fomos a uma loja de ferragens com a peça original em mãos. Conseguimos um tubo metálico em aço, de igual diâmetro ao original. Saímos rapidamente para a casa de um amigo de Gabriel que possuía uma oficina. Gentilmente atendidos, o simples rapaz, Sherman, abriu-nos a porta, pegou o tubo metálico e com muito jeito, torneou carinhosamente a peça; uma hora de trabalho intenso. O preço? Nada, só a amizade e o prazer de ajudar quem necessita.
Seguimos correndo de volta ao hotel. O transporte que me levaria a Oiapoque (chamado de pirata) já me aguardava. Tão logo eu e Gabriel chegamos, pegamos a bike, colocamos o novo espaçador e ali, com uma precisão de décimos de milímetros, a roda encaixou e girou livremente. Essa era a boa notícia anunciada pelo casal durante meu café da manhã? Imaginei que sim, pois o desfecho daquela situação trouxera-me alívio e paz.
Despedi-me de Gabriel, como se fosse um irmão. Seu empenho e dedicação a tudo o que aconteceu nesses dias em Macapá foram decisivos para que minha jornada começasse bem.
Coloquei a bike na caçamba da caminhonete e, eu e o motorista, rumamos ao ponto de partida onde mais três pessoas nos aguardavam para embarque.
Partimos por volta das 13h30 para enfrentar os 595 km da BR 156, minha futura morada nos próximos 6 dias. Durante o trajeto, tentava mapear os pontos de apoio, como fazendas e pequenos comércios na beira da estrada. A 150 km de Oiapoque, entramos em uma área indígena com inúmeras tribos à beira dos igarapés. Em uma delas, avistei a aldeia Tukai, meu provável ponto de parada na primeira noite dessa jornada. Foram 10 horas de uma viagem cansativa até Oiapoque quando finalmente adentramos à pequena cidade franco-brasiliana.
Despedi-me do Cacá, o motorista da caminhonete, agradecendo-o pela segurança com a qual dirigiu e me trouxe.
Olhei ao meu redor, reparei que Oiapoque era muito simples; fui direto ao hotel para a minha primeira noite por essas bandas.
Ao deitar, lembrei do otimismo das palavras do casal da manhã. Realmente, algo de muito bom me acontecera nesse dia. Naquele momento, sentia-me feliz, como uma criança, no lugar onde sonhei e planejei estar. Afinal, estava em Oiapoque, o extremo norte do país e meu ponto de partida em direção à rota em direção ao sul.
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