Adeus, Dunquerque! Merci!
►Bom dia! Acordei com o corpo doendo por ter carregado a bike ontem para lá e para cá e passado por conta desse fuso. Sei que vou acostumar, uma questão de paciência comigo.
Hora de começar a ajeitar as coisas, já mandei recado para o Fabien, que ficou de me acolher na casa dos pais em Amiens, não faço a mínima ideia se isso vai ocorrer. Amanhã, sei que tenho lugar garantido em Aire-sur-la Lys na casa da Véronique. A ideia é sair bem de leve, não forçar, avisar ao corpo que a jornada será dura, não se agredir e aceitar. Vi o plano altimétrico de todo o trajeto e a partir do quilômetro 450, o negócio vai pegar. Em Dunquerque a temperatura está muito boa, 15 graus e umidade 77%, e hoje o vento a favor da minha pedalada. O tempo está bom também, sol, não tem uma nuvem no céu como ontem.
Comecei o dia indo ao correio para despachar a mala de chegada para a casa da Monica em Barcelona. As coisas são muito práticas aqui, tudo é protocolo e quando você sai desse protocolo eles ficam perdidinhos. Foi assim ontem tentando embarcar a bike no trem e hoje na agência dos correios. Quando saio do Brasil, levo três volumes, o mala-bike com a bicicleta desmontada, uma mala de viagem contendo tudo o que vou usar e precisar durante o trajeto e uma mochila de costas. Então, hoje após montar a bicicleta, obviamente sobraram a mala de viagem, a mala- bike, uma calça jeans e algumas ferramentas, 9kg. O que fazer com essa mala? O mesmo que fiz em outras viagens internacionais, ou seja, despachá-la para o meu destino final, no caso, Barcelona, casa da Monica (diga-se meu grande apoio na Europa). Quem envia uma mala de Dunquerque para Barcelona? Provavelmente ninguém, então nos correios, primeiro perguntei se era possível para a atendente enviar uma mala e imediatamente ela me mandou pegar a fila. Daí apareceu uma mulher falando que só era possível se a mala estivesse com cadeado. Por sorte, tinha um na mão. Chegando minha vez, o senhor recepcionista falou que não era possível, que só era possível enviar caixas de papelão. Daí eles ficaram curiosos para saber o que tinha dentro da mala. Abri, mostrei a mala-bike e algumas ferramentas e falei que era leve. Daí me perguntaram se eu não iria mandar a chave do cadeado e ficaram curiosos em saber como alguém iria receber uma mala sem a chave. Falei que a iria levar a pessoalmente. Daí a pergunta fatal? Mas como? Respondi, de bicicleta. A partir daí, a mala virou coadjuvante da situação e assim continuaram: Mas você vai pedalando até lá, é muito longe. Respondi, que sabia que era longe, mas que mesmo assim eu iria. Ninguém entendeu bulhufas, um olhou para o outro e finalmente me mandaram preencher um papel com o nome do destinatário pela bagatela de 35 Euros. Enfim, caso resolvido.
Com a bike montada, fui procurar um posto de gasolina para encher o pneu e isso não é tão fácil por aqui. Pedalei 3 km para achar um. Por um Euro, você usa o calibrador por cinco minutos. Coloquei a moeda, deixei o capacete do meu lado. Apareceu um sujeito para calibrar também, estava de costas para ele. Apareceu e foi embora rapidamente, achei estranho. Daí, eu me dei conta que meu capacete não estava mais lá. Montei na bike, fui atrás do sujeito que desapareceu. Sobrou-me comprar um outro capacete, comprei um baratinho numa loja de esportes, mas ainda puto da vida com a situação. Os caras são muito rápidos aqui, muito espertos, sabem que você não é local. Restou-me aceitar e entender essa situação como um aviso, nada é por acaso, só um sinal para ficar mais esperto para não acontecerem coisas piores.
Hoje falei com o Fabien que arrumou a casa dos pais dele para eu pousar em Amiens. Assim, consegui todas as estadias via Warmshowers até Paris. Falei também com o Franck, de Bourges, que está fazendo a maior propaganda da minha chegada na cidade, vou me hospedar na casa dele.
Fiz bastante coisa hoje, não parei um segundo, fui ao mercado fazer uma compra, não vou a restaurantes, muito caro. Também assisti a um casamento na catedral. As diferenças são incríveis, aqui não tem corte de gravata, mas rola um cesto de doação que vai passando entre os convidados. Também não jogam arroz nos noivos, deve ser coisa de pobre, aqui sopram bolinhas de sabão sobre eles, é mole? Fora isso, uma cerimônia católica tradicional, noiva lindíssima.
Fim do dia fui ao Museu de Dunquerque, saber um pouco mais sobre a evacuação de Dunquerque na 2ª Guerra Mundial. Um museu pequeno, mas simpático com muito material recuperado da guerra. Recomendo a todos assistirem ao filme Dunkirk de Christopher Nolan sobre a Operação Dínamo. Dunquerque teve um papel fundamental na 2ª Guerra Mundial.
Vou dormir cedo, ainda estou um pouco passado com o fuso, mas aos poucos vou entrando no horário. Amanhã, partida. A primeira etapa da viagem, Aire-sur-la-Lys, casa da Veronique, mãe do Clement, pouquinho, só 52 km, vamos só lubrificar de leve as articulações e informar ao corpo que vamos ter uma jornada longa nos dias depois.
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