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Foto do escritorNestor Freire

IR DO USHUAIA ATÉ A NORUEGA DE BIKE É FÁCIL. DIFÍCIL É SABER ONDE GUARDAR OS CASACOS


UMA JORNADA DE BICICLETA PASSANDO PELOS EXTREMOS NORTE E SUL DO MUNDO. EM UM ANO, NESTOR FREIRE, COM SEU PROJETO GIRAVENTURA, FOI DO USHUAIA, NA ARGENTINA, AO CABO NORTE, NA NORUEGA. UMA AVENTURA COM MUITAS PEDALADAS AINDA PELA FRENTE!

POR BÁRBARA SOUZA


“Na caverna que você tem medo de entrar está o tesouro que você procura”. Foi a partir desta frase, do escritor e mitologista Joseph Campbell, lida em uma revista, que Nestor Freire decidiu ir atrás de seu próprio tesouro: buscar sua essência.


Em um momento de vida, próximo dos 50 anos, Nestor começou a fazer uma série de questionamentos sobre sua conquistas, realizações e hábitos. Algo muito comum entre a maioria das pessoas. Ele se formou como engenheiro mecânico, trabalhou por 25 anos na profissão, tinha uma empresa e resolveu mudar o rumo de seu futuro.


Foi assim que nasceu o Giraventura, um projeto de longo prazo, ou melhor, de 15 anos viajando de bicicleta pelo mundo, com início em 2012 até 2027. Uma verdadeira experiência filosófica em busca de aprendizados, pedalando e desbravando o mundo. “Chega um momento na vida em que começamos a olhar mais para as coisas que fazíamos quando éramos criança.


Ir atrás desse sonho envolveu muito planejamento. Primeiro, uma transação comercial, já que era um engenheiro com empresa e funcionários. Atualmente, Nestor ainda faz parte de uma outra empresa, mas resolveu se dedicar a seu projeto de coração.  O Giraventura também tem um viés comercial com os patrocinadores, sempre buscando marcas e empresas que ofereçam produtos de qualidade para tornar as viagens ainda melhores e mais confortáveis.


O planejamento também ocorre na esfera das viagens. Um ano antes de cada uma, é feita uma organização específica, estudando toda a logística para saber se vai dormir em albergue ou em acampamento, onde comer, melhores rotas, pontos de apoio, e etc.


Atualmente, Nestor está na etapa nomeada “O Grande Desafio”. Sua última viagem, feita em 2019, foi chamada de Extremos do Mundo. Nela, Nestor foi do ponto mais ao sul do mundo até o ponto mais ao norte: de Ushuaia, na Argentina, até Cabo Norte, na Noruega.  “Os extremos do mundo são lugares onde as estradas acabam, só resta mar”, afirma ele.


Em 31 de janeiro de 2019, Nestor pisava, ou melhor, encostava as rodas, na ponta do Hemisfério Sul. Alguns meses depois, em 20 de agosto, foi a mesma coisa, só que no Norte. Chegar em Ushuaia e no Cabo Norte foi mágico e encantador. “Na hora que você chega, você sente uma energia, algo especial, uma grande conquista”, conta Freire. Nesta viagem, ele só viveu verão, temperaturas quentes e sol nos dois hemisférios.


Foi uma viagem basicamente de acampamento e isolamento e a rota foi construída dessa forma. As duas etapas foram muito difíceis. Ao sul teve o fator vento. Ele influencia diretamente no dia, com um vento contra, você não anda mais do que 30 km em uma jornada de 8 horas de viagem. Com um vento a favor, você consegue em um dia, andar 140 km. “É muito relativo dizer o quanto eu pedalo por dia, tiveram dias em que pedalei 50 km, outros consegui fazer 250 km. Depende do vento, do relevo. Tudo isso influencia no desempenho”, completa. Além de estudar o vento, ele verifica sempre a temperatura e a maré.


Na etapa norte passou por seis países: Holanda, Alemanha, Dinamarca, Suécia, Finlândia e Noruega. E foi em Frankfurt que trocou de bicicleta. Até então, era a mesma desde o começo do projeto. Fez a troca para se adaptar melhor às condições dos novos destinos, que tinha pela frente. Uma nova companheira de viagem mais apropriada para as aventuras que viriam pela frente.

Na Noruega, apesar de ser conhecido como um país caro, a única coisa com a qual Nestor gastou foi comida. Comprava no supermercado e parava nos lugares de acampamento. Tomava banho no rio, isso quando dava, porque estava muito frio.


Entre os itens que leva consigo, o mais importante é o equipamento de rastreamento e segurança, um geolocalizador via satélite. Para o aventureiro, esse instrumento é ainda mais necessário no caso dele, que viaja sozinho.  “Se acontecer alguma coisa comigo, as pessoas sabem onde estou. E nesse equipamento tem também um botão de segurança que aciona uma central nos EUA e passa um chamado para resgate perto do local onde estou”, explica.


Na bagagem, também carrega utensílios de cozinha, roupa de frio e de calor, remédio, comida e garrafa de água. “O que carrego na bicicleta é proporcional ao medo que sinto no momento”. Pensar no que levar é um ponto importante e que deve ser bem pensado, já que levar peso demais demanda mais energia e consequentemente mais comida e, assim por diante. Além disso, muito peso pode causar uma lesão em uma pessoa que pedala bastante todos os dias. Por isso, o planejamento é tão importante, algo essencial para fazer dar certo.


Todo o aprendizado adquirido com as viagens, os perrengues e o sucesso de cada jornada ele compartilha com as pessoas interessadas por meio de suas palestras, nas quais fala sobre organização, planejamento e resiliência. Segundo ele, o objetivo é trazer as reflexões que acontecem durante suas aventuras para a vida real. Além disso, busca mostrar que quando você tem um sonho, deve ir atrás dele, seja ele qual  for. “Muitos têm uma visão equivocada de que sou um doido que saiu andando por aí, mas  todas as viagens são planejadas com um ano de antecedência. Eu levo muito a sério”, comenta. Para ele, quando saímos do limiar da vida cotidiana, ou seja, sair do esperado, você é tido como maluco por sair do padrão e isso incomoda muita gente.


Em 2027, o projeto Giraventura encerra de maneira esplendorosa. Nestor completa 60 anos e fará o Caminho de Santiago de Compostela em um ano compostelano – ano no qual, o dia de Santiago Apóstolo, que é 25 de julho, coincide em um domingo. Sua origem encontra-se no fato da tradição assegurar que o descobrimento dos restos mortais de Santiago deram-se em um domingo. Um ano de grande simbologia Cristã,  pois o dia do Apóstolo Tiago Maior, padroeiro da Espanha, cai em um domingo, um dia sagrado. E qual será a sua melhor viagem? Ele responde com toda a certeza:  “Eu sempre falo que a melhor foi a última. Cada jornada me coloca em um outro patamar, de entender melhor as pessoas, de ser tecnicamente melhor nos trajetos e ter mais previsibilidade do que pode dar errado”, conclui o cicloviajante, que conseguiu tirar os seus desejos do papel.

DICAS QUENTES


Itens essenciais para mala

São poucos os itens que necessitamos para uma longa jornada. Não há uma lista definida, cada um tem a sua, mas temos que nos atentar que ao lotarmos as mochilas de equipamentos, estas ficam pesadas, o que dificultará a trajetória. Sempre falo que “o peso das coisas que carregamos é proporcional aos nossos medos”. Assim, se tiveres medo de passar frio, levarás mais casacos ou se tiveres medo de ficar doente, mais remédios. Uso mochilas emborrachadas e à prova de água. A roupa depende do que vai enfrentar, como a época do ano e as condições de tempo adversas. Planejamento é tudo!


calçados

Em regiões onde há mais asfalto, utilizo sapatilhas para pedalar, com tacos que prendem meus pés ao pedal.  Nesse caso, tenho que levar um par de botas para caminhada. Em regiões onde o terreno é 100% arenoso, utilizo botas sem taco, tanto para pedalar, quanto para caminhar.


peso da bagagem

Depende da duração da viagem. Em viagens curtas, estilo bikepacking, a média é de 5 kg, Já em viagens mais longas pode chegar até 12 kg.


seguro viagem

Existem diversas seguradoras para um plano de saúde internacional, mas geralmente compro o mais básico que já atende ao Tratado de Schengen.

GPS e mapa


Indico um geoocalizador de precisão que se chama SPOT. Com ele, é possível rastrear a minha rota e mandar mensagens aos familiares via satélite por SMS. No equipamento que utilizo, SPOT X, há um botão de emergência que, quando acionado, sou localizado por uma equipe de socorro em qualquer lugar do planeta.


Todas as minhas rotas são minuciosamente planejadas com um ano de antecedência. Levo comigo três modelos de mapa, um no geolocalizar, outro no celular e outro em papel. Impossível se perder!


*Nestor Freire é engenheiro, cicloviajante, palestrante e idealizador do Projeto Giraventura.


Reportagem completa com fotos: clique aqui



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