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PELO RIO AMAZONAS, DO AMAPÁ AO PARÁ - ETAPA 2020, DO OIAPOQUE AO CHUÍ DE BIKE

Atualizado: 11 de ago. de 2021


A ideia era partir às 6h para o Porto de Santana, 21 km do centro de Macapá. Acordei às 5h para começar a ajeitar meus equipamentos.


Às 6h recebo uma mensagem de Gabriel. Não é que ele pedalou da casa dele para me acompanhar até o porto?

Partimos juntos, tentamos parar no monumento do Marco Zero (demarca a passagem da linha do Equador) para tirar uma foto e, depois de ultrapassar uma cancela, fomos gentilmente expulsos por um segurança estressado.

Continuamos nosso rolé até o porto, onde troquei meu voucher e embarquei junto com a bike para Belém do Pará por R$ 190,00. A despedida de Gabriel foi marcante e parecia que me despedia de meu filho quando deixei São Paulo em 4 de setembro. Não esperava tanto carinho de todos os amapaenses, mas o Gabriel se destacou, não desgrudou de mim um minuto, mesmo não estando comigo todo o trajeto. É estranho falar que me senti tratado como um filho, mas foi esse o sentimento. Deixei o Amapá com a melhor das sensações, a de ter vivido intensamente todos os momentos e respirar esse Estado como nunca imaginei.

A embarcação, uma balsa suntuosa, levava carros, alimentos, equipamentos e algumas dezenas de pessoas, mas não estava lotada. No convés superior, uma grande área onde as pessoas instalavam as sua redes e se acomodavam como podiam. A embarcação partiu no horário deixando pra trás um Amapá que jamais vou esquecer.

À minha frente, enfrentaria 24 horas do grandioso Rio Amazonas, que com sua água barrenta, foi se apresentando ainda quieto. Aos poucos, a navegação foi entrando rio adentro, contornando a Ilha de Marajó e entrando no labirinto de uma selva. Acompanhava no mapa a evolução da embarcação e era impressionante como as proporções do que via e o mapa apresentava eram diferentes. O Rio Amazonas é imenso e sua imponência misturava-se a uma selva densa em cor verde musgo.

Aos poucos, foram aparecendo algumas comunidades à beira do rio; dezenas delas. Pessoas carentes, na sua maioria mulheres e crianças, que arriscam suas vidas e remam em pequenas canoas até os grandes barcos. Nesse momento, são lançados ao rio pelos tripulantes e passageiros pacotes plásticos, que podem conter roupas, alimentos, brinquedos ou até remédios. O descaso com os ribeirinhos do Rio Amazonas levou-me pela primeira vez às lágrimas ao presenciar uma cena chocante de pessoas que lutam pelo mínimo do mínimo.

A noite chegou junto com uma tempestade, quando rolou um jantar. Não comi, pois sabia que aquela serenidade aparente do rio era momentânea. Já deitado em minha rede, refletia o quanto temos e o quanto reclamamos por não ter. Fomentados por uma propaganda de consumo, somos instigados a possuir, mesmo não precisando. O rio me ensina que os ribeirinhos lutam pra ter, só que o mínimo e esse mínimo também lhes trás alguma felicidade.


A madrugada entrou noite adentro e o rio começou a engrandecer depois da passagem por Breves. Veio o vento forte e as águas turbulentas. As cortinas foram fechadas e o balanço das redes formava um balé. Às vezes acordava perguntando-me o que se passava. A embarcação parava em alguns momentos, encostavam barcos menores ao lado, mas aos poucos a viagem continuava.


Chegamos a Belém no horário previsto e com o rio bem agitado. Era hora do Pará, de novos encontros, de novas pessoas. O Amapá virou um passado recente, mas guardado na minha memória e no meu coração.

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