Nestor Freire

16 de ago de 20202 min

PEDRA NO CAMINHO - ETAPA 8, 2020

Atualizado: 27 de jul de 2021

Traçada a rota da etapa 2020 do Projeto Giraventura. O destino? Chuí, 5.300 km depois de Oiapoque. Dois meses de trabalho árduo para identificar a melhor rota pelo interior do Brasil, o que não seria possível sem a clareza para onde pretendo ir.

Essa etapa 8, esse caminho que tracei faz analogia à vida, essa recheada de encontros com coisas e pessoas, alguns previsíveis como comidas gordurosas pelos estados do Norte, outros imprevisíveis como falhas técnicas na bike ou até doenças. Tenho certeza que esse caminho não é uma estrada plana com temperatura agradável, sem ventos, ou sem caminhões na pista. Entretanto, muitas vezes essa imprevisibilidade traz a mim boas surpresas, como uma mensagem carinhosa ou um sorriso de alguém que torce por você no final de cada etapa. Essas coisas me impulsionam, mas nem tudo é tão belo, há surpresas desagradáveis, que aparecem a todo instante como um impedimento para que você conclua o que sonhou. Nessas horas, que as dificuldades parecem ser intransponíveis, existe uma tendência natural de defesa que é a de impotente diante da situação. É nesse momento também, que surge um monstro dentro de mim, que é a tendência em desvalorizar o destino que tracei e, por consequência, o mérito da chegada. Mas será? Abrir mão da conquista por conta da acomodação ou da covardia diante às dificuldades? Fica a pergunta!

Hoje, dia 16 de agosto de 2020, estou a 24 dias do início da minha rota e vencer obstáculos que surgiram repentinamente antes da expedição é não me contentar com menos do que alcançar o Chuí depois de 5.300 km. É não me amedrontar diante da dificuldade que enfrento, das coisas que estão me jogando para baixo, que me fragilizam e tentam me impedir de realizar o meu sonho.

Meus aplausos àqueles que vão para cima, com o vento cortante no rosto, de peito aberto, sabendo que vão encontrar pedras pelo caminho, sabendo que o planejamento de meses não nos dá 100% de confiança, mas que de maneira quase obstinada, não se deixam abater, levantam-se em queda, olham para o destino final e tem a certeza que só se acalmarão quando alcançarem o que foi desejado.

Não há destino pretendido que não tenha alguma pedra, algum buraco, alguma dificuldade. Assim tento fazer desse foco e dessa perseverança a minha maior bandeira! Aguardo-te dia 9 de setembro!

Pedra no caminho – Carlos Drummond

No meio do caminho tinha uma pedra
 
Tinha uma pedra no meio do caminho
 
Tinha uma pedra
 
No meio do caminho tinha uma pedra

Nunca me esquecerei desse acontecimento
 
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
 
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
 
Tinha uma pedra
 
Tinha uma pedra no meio do caminho
 
No meio do caminho tinha uma pedra.

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